Confronto de lógicas
Luiz Carlos de Freitas
Ana Lúcia
Cíntia
Niraldo
Implementar o ciclo não é simplesmente colocar em prática uma medida meramente técnica, legal ou burocrática. Na verdade, significa romper com o modelo de escola seletiva, autoritária e sem qualidade pedagógica. Implica superar dificuldades construídas durante toda a história da Educação no Brasil e enfrentar o problema da exclusão e da baixa qualidade do sistema educacional por meio de mudanças profundas de toda uma concepção político-pedagógica de educação.
Quando se pretende mudar paradigmas introjetados, já institucionalizados, é preciso que as informações sejam socializadas, debatidas, compreendidas. Fazer uma escola inclusiva, organizada em ciclos, requer muita adesão a esse projeto e uma reflexão que dê sustentação a um fazer cotidiano. Trata-se de uma mudança profunda diretamente relacionada ao processo de conhecimento e, assim, de formação.
Para isso, são necessárias uma Reorientação do Currículo e uma reflexão sobre o que a escola deve ensinar e como fazer para que todos os alunos aprendam. É preciso romper com a visão de currículo pronto, preso a programas preestabelecidos e sem sustentação na continuidade, bem como, garantir a articulação dos conteúdos que tenham significado para aquela população e que forneçam chaves para a compreensão do mundo.
Ensinar a todos significa romper com o ensino massificado e atender à diversidade. No conceito de ciclo está contida a idéia de que os seres humanos são singulares e aprendem de jeitos e em tempos diferentes que não cabem nos limites da seriação. Portanto, é parte integrante do fazer pedagógico refletir sobre o ensinar, o aprender, assim como propor diferentes intervenções que levem todos (alunos, pais e profissionais da Educação) a atingir novos patamares de conhecimento.
Incluir todos exige, principalmente, rever a avaliação. Na escola em que apenas alguns alunos terminam o Ensino Fundamental, a avaliação tem uma função clara: seletiva e classificatória. Na escola inclusiva, organizada em ciclos, a avaliação é percebida como diagnóstico e acompanhamento da aprendizagem dos alunos e, ao mesmo tempo, para o professor, o diagnóstico e a possibilidade de reorientar o processo de ensino, portanto, para o planejamento. Para a escola, a avaliação indica os dados de diagnóstico e oferece pistas à reorganização de seus tempos e espaços para que cumpram sua função social – ensinar a todos.
A organização da escola em ciclos implica uma reformulação do trabalho no conjunto da escola e em cada sala de aula. No conjunto da sala de aula, é indispensável um trabalho coletivo em que educadores de diferentes ciclos, diferentes anos dentro de um mesmo ciclo e de diferentes classes estejam juntos, discutindo e buscando soluções para os problemas de aprendizagem e de ensinagem, tendo em vista o que se busca alcançar com eles ao final de cada ciclo.
Nessa perspectiva, no interior de cada sala de aula é preciso desenvolver:
1.O trabalho com a diversidade;
2. A articulação entre os conteúdos;
3.As atividades significativas;
4.A cooperação entre todos;
5.A relação democrática;
6.A avaliação como parte integrante do processo de ensino e de aprendizagem;
7.As retomadas constantes de conceitos não apropriados;
8.O trabalho com valores: respeito, solidariedade e tolerância;
9.Autonomia.
Avaliação
Uma política que defende a Qualidade Social da Educação, ou seja, o Acesso e a Permanência de todos na escola, com qualidade, considera necessariamente a avaliação como reguladora do processo de ensino e de aprendizagem. Isso significa colocar a avaliação a favor da aprendizagem do aluno e não a favor da exclusão, com o fracasso escolar.
Esse é o princípio subjacente à organização do ensino por ciclos uma vez que ele estabelece um contínuo de aprendizagens, muitas vezes interrompido no ensino seriado, pela reprovação.
A avaliação, parte integrante do processo de ensino aprendizagem, precisa ser compreendida como um instrumento para ajudar o aluno a aprender. No dia a dia da sala de aula o professor, ao tentar compreender o que cada aluno produz e as soluções que apresenta, pode orientá-lo melhor e transformar os erros em situações de aprendizagens.
Na avaliação em processo, o professor pode rever os procedimentos que vem utilizando e replanejar sua atuação, enquanto o aluno continuamente se dá conta de seus avanços e dificuldades. No contexto das relações de ensino aprendizagem na sala de aula, a avaliação tem, assim, uma função permanente de diagnóstico e acompanhamento do processo pedagógico. Só assim é instrumento de aprendizagem: quando o professor utiliza as informações conseguidas para planejar suas intervenções, propondo procedimentos que possibilitem aos alunos atingir novos horizontes de conhecimento.
Essas intervenções podem exigir formas diversificadas de atendimento e alterações de várias naturezas na rotina diária da sala de aula, no uso do tempo e do espaço e na organização dos grupos. As informações recolhidas nesse processo de avaliação também vão levá-lo a perceber quando o acompanhamento deve ser mais individualizado, em pequenos grupos ou no coletivo da classe. O processo de avaliação, nessa perspectiva conceitual, pressupõe a articulação das três dimensões de acompanhamento e a necessidade de refletir sobre as práticas pedagógicas vividas.
No entanto, a avaliação escolar não se restringe ao processo de ensino aprendizagem ou ao desempenho do aluno e ao trabalho do professor. É preciso pensar num cotidiano escolar que favoreça a consecução dos fins apontados. Dessa forma, indicamos a necessidade de um processo avaliativo de toda a estrutura, organização e funcionamento das Unidades Educacionais. Também a instituição, em suas instâncias meso e macro, deve ser avaliada.
É importante retomar aqui o conceito de Qualidade Social da Educação, lembrando que a construção dessa qualidade requer a participação e o esforço de todos.
Planejar...
Realizar...
Registrar...
Refletir...
É avaliar.
Avaliar é...
Planejar...
Realizar...
Registrar...
Refletir...
sexta-feira, 13 de março de 2009
CICLOS, SERIAÇÃO E AVALIAÇÃO
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