quinta-feira, 8 de maio de 2008

POR UM CURRÍCULO LIBERTADOR.aula/5/05/2008/ M. Fátima

Convém lembrarmos que um currículo, de modo geral, apresenta inúmeros enfoques quanto a sua organização: temos o enfoque no educando, enfoque no conteúdo, enfoque na ação, enfoque na estrutura da escola, enfoque nas estratégias, enfoque no professor, enfoque na sociedade, na cultura e nos valores. Isto não quer dizer que um enfoque, necessariamente, exclua os demais.

O essencial do que pretendo nesta fala, como o título dado sugere, é fazer uma leitura crítica que caracterize o que chamo de “Currículo Libertador”. Aposto, sobretudo, no potencial do professor como principal instrumento desta empreitada.

Currículo, de modo geral, apresenta inúmeros enfoques quanto a sua organização: temos o enfoque no educando, enfoque no conteúdo, enfoque na ação, enfoque na estrutura da escola, enfoque nas estratégias, enfoque no professor, enfoque na sociedade, na cultura e nos valores. Isto não quer dizer que um enfoque, necessariamente, exclua os demais.

O essencial do que pretendemos nesta fala, como o título dado sugere, é fazer uma leitura crítica que caracterize o que chamo de “Currículo Libertador”. Apostamos, sobretudo, no potencial do professor como principal instrumento desta empreitada.

À luz do que acima expusemos de currículo, suponhamos que uma metáfora razoável para o mesmo é de ser ele uma “janela”. De imediato, uma janela nos reporta para abertura, para liberdade, para contemplação. Através dela, a luz penetra. A janela simboliza receptividade. Dela é que empregamos olhares, por isso tal jogo é complexo e não pode ser mero brinquedo ante esse mundão das aparências.


Bom currículo, amigos e amigas, é aquele que nos força, nos incita, nos convida a sairmos das “clausuras”, “das cavernas” e nos põe em contato com luzes de auto-realizações em que a convivência de abertura íntima em direção ao outro seja realidade. Bom currículo é arejamento, é transcendência crítica.

Portanto, interrogar constantemente nosso trabalho procurando saber mesmo o que quer este currículo dizer, o que ele dizendo está deixando de dizer é assumirmos um comportamento engajado, é, ousamos afirmar, irmos para além do senso comum dos educadores. Afinal, descurtinar o verdadeiro currículo envolve tanto o explícito, como o oculto, o encapotado. Ademais, currículo sem uma, repitimos, prática dialética, é deslavada farsa, é embuste. Nele, o inesperado não deve ser temido. Nele, o toque utópico é imperativo categórico. Nas palavras de Ernst Bloch, “o descortino das utopias começa na formulação de hipóteses capazes de fulminar a ortodoxia”.

Nosso grande e urgente desafio talvez seja descomprimir nossos pensamentos das leituras equivocadas sobre currículo para que possamos admitir uma espécie de intervenção cujo objetivo maior é a humanização crítica, libertadora, do processo educacional. Ou seja, precisamos imaginar horizontes que fujam dessa barbárie fatalística das coisas. Nossa vocação maior não é a lógica do capital.

O currículo jamais deve ser racionalização do estabelecido. Não deve conter uma filosofia política que justifique estruturas desumanas como se fôssemos incapazes de idealizar, imaginar e construir um outro mundo. Não pode fugir da vida prática como ponto de partida, deve, sim, enfrentar a realidade como ela é. O currículo, amigos e amigas, não é instrumento de opressão através do qual “cantamos acorrentados”. Jamais deve ser reflexo, digamos, de um fenômeno que chamo de “neodesesperança” caracterizado por arrazoados supersticiosos de que é absolutamente inviável a mudança. Não deve ceder ao nhenhenhém de ideólogos conservadores que vivem requentando fórmulas e receituários para o conformismo e para a falta de imaginação. O currículo não deve se apropriar de teorias estranhas para explicar a nossa realidade, quer internamente, quer externamente. O currículo, enfim, é obra de compreensão, de identificação das estruturas, de consciência crítica que molda nossa realidade. Nele, sem dúvida, hão de estar as contradições, as anomalias, as brechas que nos abrem possibilidades transformadoras.

Tenhamos ou não consciência disso, o âmago das questões curriculares é puramente político. Que nossas escolhas, além do saber necessário acumulado, se pautem na luta em prol de um mundo mais digno.
A transgressão salutar é ferramenta, é pré-requisito para avançar. Conhecimento legítimo, útil, cidadão, conhecimento libertador, não é introjeção de “silêncios”. Disseminar, em nome da cultura, em nome da Educação, conteúdos sabidamente ligados aos interesses de uma minoria é embuste, é fetiche. Não podemos aceitar uma sociedade em que mais do que uma entre cada cinco crianças nasce na pobreza, condição essa que está se agravando dia a dia. Tampouco podemos aceitar como legítima uma definição de educação que estabeleça como nossa tarefa a preparação de alunos para funcionar sem problemas nos “negócios” dessa sociedade. Nações não são empresas, para ficarem eficientemente produzindo em série o “capital humano” necessário para dirigi-las”.

Finalizamos, amigos e amigas, estas breves reflexões com as sábias palavras de Paulo Freire: “Um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de, a custo de tanto descaso pela educação pública, existencialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente cívico que leva ao cruzamento dos braços. “Não há o que fazer” é o discurso acomodado que não podemos aceitar”. Não, não e não. Estamos com o mestre: “A esperança é necessidade ontológica, a desesperança, esperança que, perdendo o endereço, se torna distorção da necessidade ontológica. Não somos esperançosos por pura teimosia mas por imperativo existencial e histórico. Precisamos da esperança crítica, como o peixe necessita de água fria.”

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